A obra Infância #2  apresenta as questões que permeiam os trabalhos do Alto*Contraste: ambiguidade, estranhamento e certo desajuste social.

Para o artista, interessa os primeiros indícios de desconexão entre pais e filhos, onde a criança deixa de ver os pais como heróis e passa a questionar alguns dos seus valores impostos. Em sua experiência como pai (e como filho), ele sentia essa ruptura e continua sentindo agora. "No início é como um impulso revolucionário ainda silencioso, ainda preocupado em não decepcionar os pais, mas que carrega uma sede de autonomia quase explosiva", comenta.

Outra coisa que intriga o artista é a forma como as pessoas se sentem atraídas por representações de crianças “arteiras”, “pestes”  e isso a cultura pop nos oferece de sobra há muito tempo. "Acho que a resposta está naquele inconsciente coletivo... quem já foi criança deve ter sentido isso em algum grau, e mesmo tendo sufocado esse sentimento (por respeito aos pais ou medo de Deus) acaba se reconhecendo de alguma forma nesse tipo de representação."

Sobre a referência religiosa, o artista conclui "poderia dizer que é apenas a representação (uma entre tantas possíveis) de um choque de gerações, de uma tradição imposta pelos pais e questionada ali pelas crianças. Tenho profundo respeito pela fé, mesmo porque fé e religiosidade são coisas bem diferentes do meu ponto de vista. Mas se ainda assim a obra carrega alguma crítica, diria que não posso simplesmente fechar os olhos para o caminho perigoso que a religião anda levando o Brasil nos últimos anos, isso pra mim é um fato."